quarta-feira, 29 de junho de 2011

Nota do dia

Enquanto a noite vai caindo sobre a cidade
Os meus pensamentos vão se esparramando pelo chão
Tragados por horas infindáveis de madrugadas despertas
Por olhos acesos a lampejar na escuridão.

A lembrança daquelas tardes coloridas:
A tempestade do beijo úmido na pele seca
A fazer do dia uma canção de amor
Despreocupada com ritmo, melodia ou refrão.

O toque das mãos nos dedos
E todos os sentimentos que eu tinha direito
Me faziam o filho dos desejos
De todas as oferendas que você dedicava a mim:
O corpo, o tato,
O pão, o vinho
E todas as galinhas pretas nas esquinas
Ofertadas às preces pra algum deus qualquer
Que ouvisse os nossos cantos de adoração
E nos alimentasse com alguma glória
Pois para nós muito pouco importava além do contato.

Na boca nada além do beijo
No bolso nada mais que um lugar-comum para as mãos.

Éramos pobres pelas tardes
E eternos durante a noite
E nada mais era tão importante
Quanto ao tempo em que costumávamos contar as horas.

Eu corria descalço na ânsia por seus beijos
Enquanto você me abraçava e dizia como estávamos nos perdendo
No abismo que há em amar e sentir.

Mas de tudo sempre sobra um pouco
E antes que nos tornássemos sólidos
Desmanchamos pelo ar.

Só por hoje não quero lembrar que pensei em você.
Só por hoje não quero esquecer que te quis outra vez.

Agora sou apenas
A ausência da sua companhia
E a presença da minha solidão.

Você foi um dia de sol durante o meu inverno.