sábado, 25 de setembro de 2010

Porque hoje é sábado

Anoiteço sem preocupação
e esqueço do dia que passou
porque hoje foi sábado.

Ainda lembro
de um sorisso achado
no chão da calçada
das ruas em que você pisava
enquanto eu não te sabias

eu que era tão antenado
com as antenas desligas
me vi em você sem cor
por trás das lentes da retina

e num dia de sol
nos fundos da casa
a gente se perdeu.

cadê aquele sorisso
que iluminou o meu rosto
e depois se apagou
como lâmpadas queimadas?

eu tomo café, almoço e janta
vejo o sol morrer
e a sexta-feira chegar
mas às vezes eu sofro, querida

como se viver fosse
estar contigo
nos dias nublados
a me guardar dos escuros
cantos da sala em que eu
guardava a solidão

porque hoje aconteceu tudo
e eu não fiz nada

porque hoje eu quis fazer uma canção
para esvaziar as gavetas do bidê
em que eu guardava as tuas frases vazias.

Já gastei todo aquele batom
que você esqueceu em mim
batom vermelho que pintava
os seus lábios e os nossos beijos

vendendo os meus sorissos
como os sorissos seus
por um pouco da alegria
que eu não soube ter

porque hoje foi sábado
e você não esteve aqui.

Ainda te espero
nessa mesma janela
ver você passar

os dias já são outros
daquele céu que costumávamos
colorir

pouco importa se as letras
já não dizem aquilo
que o coração quer

se a estrada é a mesma
mesmo estando a pé
eu irei

porque hoje não aconteceu nada
e eu fiz tudo

mas te agradar já deixou de ser uma obsessão
e na contra-mão eu sigo sozinho
com os sapatos nas mãos

porque ontem foi sábado
e eu te quis aqui

porque hoje é sábado.

terça-feira, 21 de setembro de 2010

Da cidade

O homem urbano em meio a cidade acesa por todos os lados,
luzes, faróis e barulho;
a cidade no escuro quase nunca está.
Pessoas, passos, rostos, restos e lixo;
Mendigo dormindo na calçada vestindo um trapo achado na rua.
Colchão de pedras, travesseiro de sacolas.
Enquanto um rico passa e esnoba.
A cidade e as suas desavenças,
tantas crenças entre tantas desigualdades.
A cidade das horas perdidas no trânsito caótico.
Humanos que se apossaram da natureza
e lhe deram nova forma a sua paisagem,
entre prédios suspensos pelo céu arranhado
grandes caralhos se elevando para o alto do cenário urbano.
Skyline recortado por luzes que acenam à distância.
Sinais de vida em cada esquina
sangue, suor e sujeira;
pessoas que passam e carregam um pouco da cidade,
entre suas ruélas e praças, bancos e bordéis.
A cidade como um céu refletindo a sua grandiosidade estrutural.
Ousadia concretizada em paredes,
idéias, planos e projetos;
embaixo do seu této somos todos animais buscando alimento
para a carne, para a alma.
A cidade e os vícios vulgares.
A cidade como campo de lutas e cenário da vida corriqueira;
entre suas construções e apartamentos,
sorrisos e tristezas em um mesmo rosto.
Somos animais urbanos perdidos em sonhos da cidade.

segunda-feira, 13 de setembro de 2010

Das madrugadas

Eis que nas madrugadas eu insistia em escrever
o seu nome em cartolinas coloridas
e espalhá-las pelos cômodos da casa
como uma maneira de não me sentir sozinho:
eu encontrava companhia nas letras do seu nome.

Você era algo como um cigarro
que em algumas poucas baforadas
me remetia a calma.

Era a heroína que alimentava as minhas veias azuis.

Eis que pelas madrugadas eu chamava
o seu nome em tons dissonantes
como uma maneira de espantar a solidão
e as agudas saudades:
eu podia escutar a sua voz vinda com o vento.

Se das madrugadas você me soubesse.