quarta-feira, 23 de novembro de 2011
Boa noite, querida
O novembro está passando e tornando evidente nosso cansaço.
Ah se não se fosse o humor!
Desses dias que transamos qualquer coisa
E topamos qualquer movimento
Para afugentar o que atormenta e celebrar o que faz sorrir.
Ás vezes somos palhaços em meio ao temporal
Brincando com sonhos,
Vestindo fantasias pra maquiar a dor.
Talvez festins solitários!
Pois afinal, quem há de pensar nas tristezas dela?
Querida, escuta o vento!
Eles começam a soprar a ansiedade por uma outra estação
Tão colorida e vívida quanto a que vivemos agora,
Pois apesar dos apesares
Brotam flores jovens no meu jardim.
Em fim,
Outro ano que fica pra trás
Assim como alguns sonhos e outras alegrias
Dispersas pela casa como velhas poesias.
terça-feira, 15 de novembro de 2011
terça-feira, 1 de novembro de 2011
Embriaguez
Quanto mais extenso o dia mais apocalíptica a noite.
Hoje não cantarei minhas alegrias, nem as emoções que não tive ou as medalhas que não ganhei...
O futuro é um fantasma a torturar memórias de um passado mal-guardado.
Quem me dera poder derramar minhas tristezas em lágrimas
E então tomá-las de uma única só vez
Como se fossem partes de uma droga
Que momentaneamente me privasse da dor
Até me embriagar com o gosto amargo das minhas próprias fraquezas.
Quem me dera adormecer e acordar em outro lugar
Onde os sonhos não caiam como folhas no inverno
Nem as esperanças se dissipem como fumaça sob o céu azul.
quarta-feira, 26 de outubro de 2011
Arquitetura popular
Historicamente, ter um habitat, possuir um local de moradia sempre foi um instinto natural e uma das principais necessidades do ser humano diante seu modo de vida e sobrevivência. Analogamente a esse tema, num artigo intitulado Construir, Habitar e Pensar, Heidegger analisa o significado de habitar e construir, chegando à conclusão de que habitar é ser, ou seja, o homem é à medida que habita. Contraditoriamente, estima-se que no Brasil o déficit habitacional é de 7,2 milhões de moradias, dado que reflete desigualdades urbanas, contrastando uma necessidade vital a uma realidade de carências.
Nesse contexto, surge a idéia de cidadania, pois habitar é intervir nas ações diárias que impulsionam e movimentam a cidade. Em um âmbito mais abrangente, cidadania está intrinsecamente ligada à habitação. Isso se deve ao fato do homem possuir uma necessidade emocional básica de `pertencer´ à cidade a qual está inserido, ou seja, sentir-se como parte integrante do seu meio através de uma identidade, de maneira que, ao identificar-se com o local que habita, cria vínculos sociais e desenvolve valores culturais . Sendo assim, o primeiro passo para a construção da cidadania é ter moradia de qualidade, pois possuindo-a, ela atua como mecanismo enriquecedor de urbanidade, nessa caso, sinônimo de cidadania, fazendo com que o indivíduo se sinta realmente integrado e pertencente à vida urbana, motivando-o a participar de discussões coletivas em prol de melhorias comuns.
Arquitetura é por excelência uma arte social, e assim como afirmou Vilanova Artigas, a casa popular é o maior monumento do século XX. De fato, esse tema foi e ainda será motivo de muita discussão e divergência. A questão é que, sendo uma necessidade básica do ser humano, a habitação popular deve ser vista como um dos pilares norteadores de políticas públicas e um caminho eficiente para sociedades menos desiguais e excludentes. Porém, a realidade dos programas habitacionais brasileiro é perversa, pois sendo em sua maioria de baixa qualidade, residências minúsculas, idênticas umas às outras, dispersas em vastos loteamentos, tornam irrelevantes as peculiaridades de cada morador, utilizando-se de limitadas tipologias para abrigar diferentes características de habitar. Não obstante, o âmbito do problema não compete apenas às autoridades governamentais, mas é tangente ao arquiteto à medida que ele se afasta da discussão pública e permanece alheio dos anseios habitacionais. O arquiteto deve estar inserido no contexto popular, só assim poderá compreender as carências e as reais necessidades e interpretá-las a fim de desenvolver uma boa arquitetura popular.
Além disso, é preciso tornar a arquitetura mais acessível para a população em geral e não restringí-la apenas a quem está inserido em seu meio. É preciso fazer com que as massas estejam em contato com a arquitetura, seja através das telecomunicações, como a televisão, revistas e internet. Também é pertinente afirmar que é preciso haver maior integração entre os arquitetos através de instituições como IAB e CREA, fazendo destes espaços lugares para debates e reflexões acerca da realidade e das variáveis integrantes do processo urbano.
Não obstante, arquitetura constrói cidadania à medida que proporciona moradia de qualidade, além de estabelecer condições de desenvolvimento de forma ética e esteticamente adequada, afinal arquitetura é o dia-a-dia da cidade e não há como desintegrá-la das outras disciplinas que fazem parte do habitat humano.
Quem sabe assim, quando tivermos arquitetos e governantes integrados ao debate popular teremos aquilo que William Morris desejou para a arquitetura, ser uma arte do povo para o povo.
quinta-feira, 13 de outubro de 2011
Trezes
Desenhar a noite como um romance policial
Névoas pairando sobre a cidade que adormece despercebida
Enquanto cães vagam solitários celebrando a loucura
Como poetas trancafiados em seus quartos
Escrevendo à eternidade de suas desilusões
Assim como a insistência do beijo
E toda a lambança daquele sentimento
Que como chama em brasa aos poucos foi se apagando
Certos amores são como células cancerígenas
Que silenciosamente se alastram pelo corpo
E tornam estéril o que era orgânico.
Agora à distância
Seus olhos são faróis que já não guiam
Nem iluminam o caminho
Que eu sempre soube enxergar.
A convivência é uma doença contagiosa.
quarta-feira, 12 de outubro de 2011
Doze
Não haverá homem que depois da calmaria não se deparará com tempestades
Nem tardes azuis antes da incerteza de noites escuras.
De transfigurações é feita a natureza dos sentidos
Tão vulneráveis quanto os próprios corpos
De homens frágeis.
O amor é a roda-gigante dos fatos.
Não cantarei o amor que não tive
Ou aquele que não soube cuidar.
Mais vale o presente esquecido que o passado guardado
Como imagens distorcidas
Pelo efeito de ausência e saudade.
As suas mãos eram tão levianas quanto à superficialidade daquele amor.
Agora,
Ver-lhe na companhia de outro já não machuca como costumava acontecer.
De fato,
Estamos sempre seguindo em frente por maior que seja a vontade de ficar
Assim como às vezes as horas também parecem não querer passar.
Ave, involuntariedade do tempo
Que conduz sem consultar nossas intenções!
domingo, 9 de outubro de 2011
Nove
E de repente tornou-se distante.
Por todas as coisas que eu quis
E agora são parcelas de passado.
Como uma venda a prestações
Fui quitando os meus sonhos
Um a um
Até poucos restarem.
Resquícios de tempo
Em que a eternidade parecia alcançável.
Agora sentado à beira do caminho
Vejo como a vida tem passado
E me deixado à margem de qualquer solução.
Poucos amigos, algumas felicidades
Dispersos em dias comuns
Em que pareço ser só mais um
Entre tantas formas iguais.
Nem se quer um amor
Pra preencher o vazio
Que se abre diante de mim
Quando o tempo se recusa a passar.
Sem companhia, sem outras mãos
E tudo aquilo que faz bem ao coração
E ajuda a viver.
Talvez escrever uma balada
Ao lado de Deus e uma garrafa de vinho
Sobre uma época remota
Em que delírios eram tudo o que eu tinha.
Mas só por hoje não quero lembrar
Que mais uma vez pensei em desistir.
sexta-feira, 7 de outubro de 2011
Sete
Sou criança diante da tarde de sol.
Da janela escutam-se vozes
E de ruídos se constitui a cidade
Que agora repousa à agitação do dia
Como homem descansando depois do trabalho
Com o sentimento de dever cumprido
Por mais que não seja novidade.
Pessoas passam pelas ruas pra qualquer direção.
Estamos sempre procurando o que fazer.
Muitos de nós não suportam a solidão,
Nem sabem fazer com que o tédio dê frutos.
Hoje a música soa sonolenta
Como amanhecer de inverno.
E em meio ao vazio do quarto
Sou solitário de sexta à noite
Enquanto o final de semana se anuncia pela janela.
E nessa brincadeira de não ver o tempo passar,
Ele está passando e deixando suas marcas:
Novas rugas, outras falhas:
Tudo o que eu tenho direito e não há como evitar:
Somos animais sofrendo constante ação do tempo
Enquanto vivemos à custa de prazeres da carne e da alma.
Só por hoje não quero pensar
Que a sua ausência era o pior que eu poderia fazer,
Pois se há motivos pra sorrir
Melhor não se preocupar com o que a manhã irá trazer.
segunda-feira, 3 de outubro de 2011
Canção sob o sol
Sei que o tempo agora é outro.
O frio já não nos assola como há pouco fazia,
Nem o seu corpo é meu objeto de desejo
E artifício calmante de minhas angústias.
Bem sei
Que o passado é o presente guardado
Freqüentemente revivido pela nostálgica saudade
Daquilo que fez bem e agora é ausência.
Sempre haverá velhas histórias contadas por outras bocas
Entremeadas por novos sonhos
Pois nem tudo é completamente esquecido que não seja lembrado.
Muitas mortes permanecem vivas
Em um constante ressuscitar!
Quisera eu lhe contar uma história à boca da noite
Sobre felicidade à distância dos seus olhos,
Os mesmo que um dia sorriram pra mim
E agora iluminam outros rostos que não o meu.
À luz da cidade a noite se põe em contradição:
O tempo está passando,
A vida sendo consumida
Enquanto nos perdemos à custa de aventuras.
Entretanto,
Mesmo que os ventos tenham mudado de direção
Eles continuam soprando ao nosso favor
Trazendo tempestades e calmarias
Assim como sempre foi.
Mas querida,
Abra a sua janela,
A primavera chegou.
terça-feira, 13 de setembro de 2011
Escuta
Ou que o tempo é um gosto pra ser sentindo de vagar.
Melhor seria pensar que ele corre à velocidade de balas
E que custa esperar, porque a vida é agora!
Preferi calçar meus sapatos e ir pra guerra
Mesmo que esta me deixasse mutilado ou incapacitado pra seguir.
Desfiz das minhas armaduras e rasguei a camisa
Querendo sentir a liberdade de correr contra o vento!
Agarrei tudo o que pude alcançar, lancei um grito cego
E tentei salvar minha alma
Na esperança de não me perder em tanta escuridão
Por mais que a vontade me fizesse precipitar!
Escuta, a tempestade que se aproxima não é aquela anunciada
Nem os ventos lhe dirão qual direção seguir
Apenas faça seu caminho, independente se for sonho ou ilusão
Porque na verdade, sob o fim somos todos iguais!
Epitáfio
Eu quis minha chance pra viver
Talvez não soubesse aproveitar
Ou então aproveitei demais!
Este é o epitáfio dos que anunciam a morte
Mesmo estando vivo.
Sentimento suicida
De quem tem pressa de viver!