quarta-feira, 13 de julho de 2011

Pois então...

I

Pois então, o que será pior:
A dor física, propriamente dita
Ou o seu efeito
Que padece em dores no peito
Tais como as sofridas por amor?

Pois de tão forte
Na hora do desespero
Qualquer resquício de alívio
É ombro e é luz
Esperança e consolo.

Não de forma cênica ou pictórica
Mas um verdadeiro corte na carne
Lateja por dias: insônia, febre, delírios
Alimentados por pilhas de remédios...
Mas a verdadeira dor pode ser imprevisível e penosa
Como um calvário que se percorre sozinho:
A cruz em cima das costas
A coroa a celebrar os espinhos
Enquanto o mundo não cessa as suas trocas
Nem para pra lhe ouvir:
Sóis apenas mais um algarismo a fazer parte das estatísticas vulgares.

Pois de quem nós há de ter medo da dor
Ou de se lembrar do sofrimento dela?

Somos seres frágeis
De corpo, alma e espírito.

II

O corpo ainda é pouco
A fé já não nos alimenta
O pão não está farto
A mesa está pequena

Estamos sempre querendo mais
Por mais que seja fora do alcance
Além do que nossos braços possam alcançar:
O céu não é o limite.

Mas sou humano e participo dos fatos mentindo e sonhando
Pois sei que a realidade é crua o bastante pra mim me contentar
Em viver apenas dessa dura paisagem que apedreja enquanto acaricia
Tantos corpos com as mesmas formas e cicatrizes.
Mas sei também que é preciso ser avulso e sensato
Pois o exagero é o mal do século.

Se a felicidade suprema está nas coisas simples
Então ela pode bater em qualquer dia.
Qualquer dia comum dentre tantos dessas vidas
Em que não nos cansamos de sonhar.