domingo, 18 de julho de 2010

O vento

Sentado de bunda rente ao chão
com os olhos pro alto
e a cabeça pelo ar:
Pensamentos, nada mais
que pensamentos tortos
de uma mente distorçida
em meio ao turbilhão.
O vento se aproxima
e traz consigo
sua canção:
por entre fatos,
olhares e ocasiões
tudo é apenas restos,
rastros e rostos
que se apagam
na linha do tempo.

O vento vai e
consigo sua canção.

Os dias passam
os anos avançam
os cabelos caem
o corpo enruga-se
e pelo ralo
a vida também vai.
Vida da qual nada se leva:
aqui deixam-se os tesouros
aqui ficam as riquezas
do teu ser nu.

Tão crua é a vida
dos que buscam cegamente
as conquistas douradas!

Vejai o mundo ao teu redor
sinta o sabor dos sentimentos
e não tenha pressa
pra ser só mais uma presa
dessa selva.

Olhai os lírios do campo!

sábado, 17 de julho de 2010

Desentupimento

Escarrar a dor como um catarro
Banhar o lenço com o
congestionamento nasal
e desentupir
como desentupo a minha
cabeça flamejante
assim como desentupo
a chaminé dos meus pensamentos
que ao final de tudo
diante do nada me levam.
Desentupir para aliviar.

São tantas vozes
tantas opiniões
que só servem à inutilidade
do ouvido que só sabe ouvir
da boca que não sabe falar
e por isso continuar
a mesma estrada a seguir:
passos já traçados.

De cima do telhado
eu vejo pessoas e elas
parecem tão vazias
quanto perdidas no
meio desse nada.

O fogo aquece
mas queima.

terça-feira, 13 de julho de 2010

Noite

Lá fora
a noite enorme
enquanto muitos dormem
eu lampejo.
Sob a escuridão
alguém passa
deixando uma nuvem
de fumaça que
pelo ar se esvai.
Os cachorros ladram
e regem a sinfonia
da cidade escura
numa noite fria
de congelar os ossos.
Enquanto muitos dormem
eu escrevo, sem pretensão
nem por vaidade, apenas
pra não me entregar ao
sono em que muitos
adormecem e se
esquecem de quão
efêmera é a vida.
Só o que não dorme
é o teu nome.
Na parede nenhum
belo retrato, apenas
papéis, rabiscos
e um quadro na
tentativa de quebrar
a monotonia do ambiente
que guarda o teu nome
reluzente rente aos
meus olhos.
Na estante livros
palavras perdidas em
frases que nada dizem
de importante assim
como este poema, que
só serve para celebrar
este instante em que escrevo
enquanto muitos dormem.
Sem pretensão ou
por vaidade, apenas
para buscar algo mais
desse cotidiano vago.

domingo, 11 de julho de 2010

Flores

Flores que nascem e morrem
perdidas no vazio da inutilidade
de suas belezas
Agarradas à terra, que as sustenta
com a sua infinita paciência,
expelindo-as em herméticos jardins
naturais: flores que se vestem
e enfeitam, que agradam e conquistam
que amam e se sacrificam,
flores que falam e que choram.

quinta-feira, 8 de julho de 2010

Tornar-se-ia

E eu nesse desvairismo inconsequente
nada pude fazer ao te ver cair
dilacerada, exalando agonia pelas entranhas.
Agora, apenas uma carcaça a se decompor;
restos de rastros que se apagam na linha
do tempo, que para você já não há;
tornar-se-ia.

terça-feira, 6 de julho de 2010

Sopro

Quando a noite caiu e todas os sonhos se partiram
eu estava no beco mais escuro celebrando as minhas desgraças.
O fogo que aquecia iluminava
a minha dança solitária de bandoleiro perdido
dos dias improváveis.
Rejeitei algum sono e tentei te encontrar
seguindo os rastros deixados por passos vagos
inscritos na calçada das lembraças abstratas de um eu quebrado.
Tristes sonhos esfarelados pelo chão
migalhas de um futuro passado
que me fez parar no tempo e reviver o passado.
Festim a esmo do escárnio!
As mágoas são tão profundas
que as preces já não bastam
a oração está muda e a fé mutilada
mas minhas garganta não pára de gritar
e a esmurar pontas de facas.
Talvez o paraíso, o alívio para a dor,
um sono prolongado, um afago da mão mais leve
ou um sopro na memória.
Esquecer tornou-se uma rotina.

quinta-feira, 1 de julho de 2010

Ritmicamente

O amor que há em seus lábios,
o sexo do seu corpo,
me sinto vulnerável
ao te ver sem roupa,
despida de qualquer pensamento,
adereço ou sentido:
o ritmo da nossa melodia é dançante.
Sou braços e coxas,
abraços e apelos
pelas esquinas, pelos cantos, atrás dos pêlos,
por um pouco de ti, um pouco de sentimento
qualquer que seja
da sua promiscuidade embriagante
dos traços provocantes
que me remetem aos desejos;
Já basta o mediocre cotidiano
de um perambular desatento
por notas dissonantes
em passos sustenidos
que só encontram o sentido
quando entram no ritmo
da nossa melodia dançante.
Mi maior.