quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013

Escárnio



Despertar da cama sem grande interesse
Tudo em mim inerte como era antes
Sem sua ausência que agoniava minhas tardes
Ou seus beijos que assombravam meu sono.

Todos meus eus de quando antes do vendaval.

Agora,
Caminhar mais solto
Ter os ombros mais leves
Desde quando longe de suas tragédias.

E mesmo sem haver alguém do meu lado
Ainda persistem em mim os festins solitários
De quem faz das tristezas dessa vida
O escárnio dessa terra.

Sob o vento dessa tarde
Me sinto livre como um Deus embriagado
Pronto pra correr atrás de todas as coisas
Que um dia um quis.

Todos meus eus de quando em mim os carnavais.

Ave involuntariedade do tempo
Que prossegue sem nos pedir!

quarta-feira, 3 de outubro de 2012

Como foi seu dia?


Querida,
Para quais lugares
Teus pés
Têm te levado?

E os teus olhos,
À distância dos meus,
Quais rostos têm admirado?

Às vezes me sinto deslocado,
Como um objeto estranho,
Ansiando por dias diferentes
Em que a nostalgia de hoje
Não seja presente.

Querida,
Às vezes me sinto ausente,
Um diálogo mudo,
Filme preto e branco
Sem cena de amor.

Suspenso de tudo que me mantém
Amarrado à Terra,
Desse mesmo chão
Que em algum lugar distante
Você pisa.

E caminhando,
Preencho as lacunas
Com coisas vazias,
Objetos sem valor.

Mas Querida,
Como foi seu dia?

Aqui,
O seu rosto ainda é
Minha rotina.

Enquanto decomponho meus dias
Em gostos azedos,
Enjoado até o peito
O findar do dia.

Mas querida,
Só queria lhe pedir,
Como foi seu dia?

sábado, 18 de agosto de 2012

Partes desabotoadas

Dessa vez não vou recorrer às suas chantagens
Nem serei palco para sua encenação
Me despirei das velhas roupas
Não quero mais ter a rosa entre as mãos
Dos espinhos já nem falo mais
As tardes ausentes, noites de amor
E depois da calmaria
Nos vestirmos para a dor.

E sempre foi assim
A roda-gigante dos fatos
Nos decompondo
Em presente, futuro, passado.

Mas dessa vez não serei seu percalço
Nem a pedra que insiste em permanecer no caminho
Serei água corrente
Pássaro voando para outro ninho

E sempre foi assim
Essa eterna desacomodação
Deixando um pouco de mim pelos cantos
Trazendo um pouco de ti pelos poros

Mas desajustados seguimos
Em busca de outros amores
Que nos façam subverter velhas cicatrizes,
Costurar algumas rugas,
E recobrar outras partes:

Partes de mim esquecidas
Em cada desamor passado,

Parte de mim desabotoada
Em cada amor não esquecido.

segunda-feira, 13 de agosto de 2012

Vazio

Largas tardes de tédio,
Ausentes beijos de amor.

Casa vazia, dias dissonantes,
Céu ausente, cores desbotadas.

Sua meia-calça em minhas roupas
O gosto do seu beijo em minha boca
à distância de suas coxas
Perto do meu vazio.

segunda-feira, 2 de julho de 2012

Acaso

Pela janela passam
Pessoas, pássaros e veículos.
Passos às vezes sem direção
Apenas a involuntariedade de seguir estradas tortas
Quase sempre incertas.
Às vezes embriagado e noutras desperto
Embalado pelo sopro do vento
Que traz sonhos e leva tormentos
Sem se fazer sentir...

Sob o peso dos meus amores eu sigo
Apagando luzes e pintando quadros
Como numa paisagem distorcida
De um guardanapo jogado
No chão dos bares que você saia
E que nos encontrávamos
Para iludirmos a vida
Deixando tudo para a posterioridade
Como bêbados numa noite de domingo
Crianças numa tarde de sábado.

A vida efêmera como um abraço
Flertando com o acaso
A ânsia por um beijo!

Seu beijo pode ser minha falência
E a volúpia dos seus toques
Meu fracasso.

Sob o peso dos meus amores eu sigo
Desejando ser mais seu do que meu
Dentro de uma noite lisérgica.

segunda-feira, 7 de maio de 2012

Perco

Perco-me em poças de um dia de chuva
Imerso em rostos que já não trazem os mesmo traços
Como um retrato fotográfico deixado ao tempo
Como uma memória relegada ao passado
Feito inseto perdido em colmeias estranhas
Num voo solitário.

E de repente você novamente aparece
Enfatizando o corpo vestindo coloridos
Em festas pelo espírito e pela alma
Como criança em dia de domingo
Como boêmio em meio à madrugada
Embriagado pela dor de uma paixão
Ou pela ilusão da felicidade.

E nessa roda-gigante nos perdemos na efemeridade das horas
No ritmo de uma ciranda em que as vozes pareciam não terem fim.

Erámos filmes em preto e branco em tardes de sol
Canções de guerras em versos de amor
Enquanto o mundo girava e nós nos despíamos
Despreocupados com o rumo e que as coisas seguiam
Inertes em nosso próprio casulo como uma borboleta tecendo suas próprias asas.

Éramos um dia de chuva, de pingos finos e cinza solidão.

quarta-feira, 23 de novembro de 2011

Boa noite, querida

Ainda estamos sob o olhar da primavera.
O novembro está passando e tornando evidente nosso cansaço.
Ah se não se fosse o humor!
Desses dias que transamos qualquer coisa
E topamos qualquer movimento
Para afugentar o que atormenta e celebrar o que faz sorrir.

Ás vezes somos palhaços em meio ao temporal
Brincando com sonhos,
Vestindo fantasias pra maquiar a dor.
Talvez festins solitários!
Pois afinal, quem há de pensar nas tristezas dela?

Querida, escuta o vento!
Eles começam a soprar a ansiedade por uma outra estação
Tão colorida e vívida quanto a que vivemos agora,
Pois apesar dos apesares
Brotam flores jovens no meu jardim.

Em fim,
Outro ano que fica pra trás
Assim como alguns sonhos e outras alegrias
Dispersas pela casa como velhas poesias.