segunda-feira, 1 de novembro de 2010

A uma alma beat

Tu te despistes e ficastes nu diante da vida:
a verdade mais cruel.
Não pensaste em ira, dinheiro ou papel: apenas os ideais.
Tu agora és um rei, dos pés à cabeça,
sem ter um reino ou uma coroa de pratas a cobrir a calva,
talvez uma de espinhos que tirastes para caminhar
sobre os mesmos pés que outrora te levaram em outras direções:
os ventos mudam e dissolvem as esperanças sonhadoras.

Nem bem sentistes a glória de teu ser
e já caístes à beira do caminho.

Não chores, velho bardo
a morte é o próprio canto dos que vivem.

Tuas unhas crescem tanto quanto os teus cabelos opacos.

Tu que cantastes o amor e a loucura
agora és solitário, bem vês que tua barba
não te mostra por inteiro:
profeta visionário das noites escuras
tu que encontrastes a chave no sol da janela
e gritastes ao porvir tuas angústias e desesperos:
eu ouvi a tua voz na madrugada
falando sobre flores recém cortadas
jogadas ao chão
em gestos de agonia;

As tuas mãos imitando raízes sobre a terra
buscando aquilo que não se pode tocar;

Na madrugada que ventava esquecida,
eu ouvi a tua voz de velho perdido em outros mundos
que não este aqui.

Tu que tirastes as tuas roupas e posastes a sós para o delírio.
Tu que ficastes a sós com os pensamentos mais sórdidos
de um homem de alma beatificada.
Tu, poeta beat, visionário dos dias escuros:

O sol é bonito, mas a noite é misteriosa.

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